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Casa de Recuperação de Alcoolismo no Cangaíba:

 

Alcoolismo

No mundo ocidental, 90% da população adulta consomem algum tipo de bebida alcoólica sendo que desses, 10% irão apresentar uso nocivo de álcool e outros 10% se tornarão dependentes, ou seja, em cada cinco bebedores, um terá algum problema de saúde relacionado à ingestão etílica (Ramos & Woitowitz, 2004).

 

Considerando-se o uso de álcool na sociedade, pode-se pensar em uso esporádico ou uso social e recreacional; uso culinário; uso de acordo com os costumes de um dado grupo familiar ou social; uso nocivo e dependência do álcool. Através da história, o álcool apresentou múltiplas funções, atuando como veículo de remédios, perfumes, “poções mágicas” ou mesmo como componente dos rituais de alimentação dos povos (Gigliotti & Bessa, 2004). O álcool é uma bebida consumida como alimento e, em certos momentos, como remédio, possuindo um valor simbólico quando usado em costumes e rituais sociais. Entretanto, também é uma droga que possui importantes efeitos farmacológicos e tóxicos sobre o sistema nervoso central e demais órgãos do corpo humano (Edwards et al., 1999). Apesar de o consumo etílico ter sido comum em diversas culturas, ao longo da história, foi somente após a Revolução Industrial que o uso excessivo de álcool tornou-se um problema social e de saúde, em decorrência da produção e industrialização do álcool destilado (Figlie, Bordin & Laranjeira, 2004; Ramos & Woitowitz, 2004).

 

O conceito de alcoolismo como doença foi descrito, pela primeira vez, no século XIX, por Magno Huss. A partir de estudos de Jellinek, em meados de 1960, a atribuição de doença ao uso problemático do álcool se difundiu (Ramos & Woitowitz, 2004). No Brasil, os dados epidemiológicos disponíveis sobre o consumo de drogas caracterizam o uso abusivo de álcool como um grave problema de saúde pública no país (Déa, Santos, Itakura & Olic, 2004). Entre os problemas de saúde comumente apresentados pelo alcoolista, destacam-se: hepatite, pancreatite, miocardite, cirrose, hipertensão, desnutrição, distúrbios neurológicos, alterações da memória e lesões no sistema nervoso central, entre outros (Figlie et al., 2004).

Após ingestão, o álcool rapidamente atinge o tecido cerebral, interferindo em funções como julgamento, pensamento e senso crítico. Concentrações etílicas elevadas no organismo causam intoxicação aguda, que provocam sintomas como: euforia, comportamento expansivo, propensão a comportamentos agressivos, desequilíbrio, dificuldades de coordenação e articulação da fala. Em níveis muito elevados de concentração, pode ocorrer estupor, coma ou mesmo morte, como resultado da depressão do sistema respiratório (Beck, Wright, Newman & Liese, 1993; Pliszka, 2004).

 

A Síndrome da Dependência de Álcool é definida como uma relação patológica do indivíduo com o consumo etílico. Alguns aspectos que perpassam essa síndrome incluem: saliência do comportamento de beber sobre os demais aspectos da vida, aumento da tolerância ao álcool, sintomas repetidos de abstinência, percepção subjetiva da necessidade de beber e reinstalação do consumo após a abstinência (Edwards et al., 1999). Com o avanço da dependência, o repertório pessoal torna-se cada vez mais restritivo, com padrões mais fixos. Os estímulos ambientais passam a se relacionar com o alívio ou a evitação da abstinência.

 

A Síndrome de Abstinência Alcoólica, por sua vez, resulta da adaptação feita pelo sistema nervoso central às substâncias psicoativas. Trata-se de um quadro agudo, secundário à interrupção parcial ou total do consumo etílico. Suas manifestações clínicas mais usuais são: tremores, náuseas, sudorese, perturbação do humor, pesadelos, alucinações, agitação e ansiedade. Essa síndrome está relacionada ao aumento significativo da morbidade e da mortalidade associadas ao consumo etílico (Maciel & Kerr-Corrêa, 2004).

A tolerância diz respeito à necessidade de progressiva ingestão de álcool para se conseguir o mesmo efeito antes obtido com doses menores. Além disso, é característico ao alcoolismo o craving ou fissura. O craving – ou percepção subjetiva de compulsão para o consumo – possui manifestações fisiológicas e psicológicas (Edwards et al., 1999; Figlie et al., 2004).

Já entre os problemas sociais, a violência, as dificuldades de relacionamento interpessoal e os prejuízos ocupacionais (caracterizados por faltas freqüentes, atrasos, baixa produtividade e, muitas vezes, afastamento do trabalho por incapacidade) são comumente provocados pelo uso crônico de álcool. Não somente o alcoolismo produz conseqüências sociais importantes, mas, inversamente, o déficit nas habilidades sociais tem sido sugerido como um fator que predispõe ao alcoolismo (Botvin, 2000; Gaffney, Thorpe, Young, Collet & Occhipinti, 1998).